O português Manuel Alegre foi escolhido hoje, por unanimidade do júri, o novo ganhador do Prêmio Camões, principal troféu literário da língua portuguesa. Nascido em Águeda, em 1936, o poeta e escritor é conhecido em seu país por representar a visão de um Portugal aberto ao mundo e pelo humanismo universalista de sua obra e trajetória. Engajado em questões políticas, crítico desde a juventude do colonialismo, é autor de poemas que viraram hinos geracionais.

— Estou sereno naturalmente, contente pelo prêmio, que é de grande significado — diz Alegre. — Já havia ganho todos os prêmios de Portugal, mas faltava esse.

Na prosa, escreveu livros como "Jornada de África" (1989) e "Alma" (1995), no qual relembra sua juventude. Na poesia, estreou com dois livros de grande sucesso, como "Praça da Canção" (1965) e "O Canto e as armas" (1967). Apreendidos pela censura, alguns de seus poemas, como "Trova do vento que passa", se tornaram hinos antifascistas na voz do cantor Adriano Correia de Oliveira. Hoje, os dois livros já venderam 100 mil exemplares.

— Não eram livros políticos ou panfletários, eram livros que dialogavam com uma tradição lírica portuguesa, nos mitos portugueses, com uma profunda raiz camoniana — explica. — No meio de uma guerra colonial, eu falava sobre descobrir Portugal em Portugal, e isso tinha um significado subversivo, pois era uma crítica à guerra e àquela política da guerra.