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O pensador contemporâneo Raymond Williams, em sua obra Palavras-chave: um vocabulário de cultura e sociedade, já adverte que violência "é hoje, freqüentemente, uma palavra difícil". Frisa que "o poder emocional dessa palavra pode causar muita confusão". Williams conclui o breve estudo do termo violência nesse livro, evidenciando que "se trata, portanto, de uma palavra que necessita de definição específica inicial, se não quisermos cometer uma violência contra ela, ou seja, arrancá-la do seu significado que remonta a fins do século 16".

A obra de Williams sugere de outro modo que sejam feitas configurações e reconfigurações dos significados de várias palavras-chave, como violência, que adquirem seus sentidos historicamente, isto é, a violência está na história e é usada pela história. A presente reflexão sobre violência para este Observatório do Mundo Contemporâneo é parcialmente inspirada nas idéias desse autor. Não vamos relativizar o conceito violência, tão pouco por um ponto final, mas propor reflexões marginais que possam colaborar na sua definição e principalmente no seu melhor emprego. Somos bombardeados diariamente pela violência, nas suas diversas manifestações. Esse tema recorrente, sobretudo na mídia, nos grandes jornais e revistas, bem como nos vários noticiários da TV local ou nacional. A partir disso precisamos questionar: como a mídia nos dá a ler o que seja violência? Com que fins ela explora a violência? É preciso perceber que, por tratar-se de um tema de apelo emocional significativo, a mídia tende a usar a violência como carro-chefe para a venda e audiência de seus jornais. De outro lado, os vários meios de comunicação classificam todos os atos de grupos resistentes, manifestantes e questionadores do status quo de violentos, mas não problematizam a possível violência indireta que vive ou viveram, até partirem para uma ação direta violente e objetiva, não banal, como quer nos fazer crer muitas vezes. As mídias também são imperdoáveis e intransigentes com qualquer tipo de violência hedionda, praticada por indivíduos criados em ambientes extremamente corruptos e indignos, que possuem traumas psíquicos profundos, mas nunca problematizam a barbárie à que foram e estão sujeitos, e por ela são chamados de bárbaros. É difícil, mas é necessário ampliar as noções ou relações do conceito de violência, questionar a noção maniqueísta ligada a violência, ou seja, a simples idéia de que, quem pratica violência são os maus e os outros são os bons. Temos de ter clareza de que na sociedade contemporânea a violência é banalizada, porém transmitida de forma maniqueísta. Somos violentados e violentamos pelo excesso de violência na mídia, na TV, que deste modo vai formando uma sociedade fundada no medo. A história do século 20 nos mostra que os resultados da inoculação constante do medo na sociedade é a formação de governos totalitários, extremamente violentos, capazes de atrocidades. Mas a mídia, ao abordas a violência do Estado, tanto junto a grupos opositores e reivindicatórios, quanto aos marginais que trazem históricos de vidas que não lhe sugerem outra opção, senão a bandidagem, usam outras expressões para a violência institucional, como força, ou defesa. Não empregam violência para os crimes do colarinho branco, de desvio de verbas e assaltos aos cofres públicos, de cifras faraônicas, que geram vácuos incalculáveis na assistência social de milhões, que são seduzidos, por exemplo, pelo crime organizado que os rodeia. Os pobres violentos são os preferidos no tribunal da inquisição midiática. Entretanto, quando os facínoras que deflagram violências maiores e mais banais são jovens de classes média ou alta, deprimidos e entediados pelo consumismo e opulência vazia de suas vidas, a mídia tende a amaciar no trato e procura achar respostas junto a uma sorte de especialistas de gabinete. Pois bem, a humanidade manipula há milênios, e até há pouco tempo atrás de forma restrita e ritualística, algumas das chamadas drogas ilícitas. Mas hoje a utilização destas foi ampliada e banalizada. Seu consumo, em todas as classes sociais (inclusive por ilustres da sociedade, que difundem o discurso da repressão total), movimenta uma estrutura produtiva gigantesca. Para atender a grande demanda consumidora essa organização produtiva e criminosa sub-emprega muitos trabalhadores num processo de mão-de-obra semi-escrava e também infantil, nas lavouras e nos pontos de venda. Muitas das chamadas "bocas", armadas até os dentes, não reconhecem e não são reconhecidas na dinâmica de livre concorrência do mercador liberal, e são também pontos de disputas homéricas. As incalculáveis cifras do comércio de drogas ilícitas correm o mundo para serem lavadas e, do mesmo modo, influem sobre a indústria bélica mundial, que vende armas para bandidos e mocinhos, promovendo verdadeiras "guerras civis não declaradas". Com base nos parágrafos acima, sobre as estruturas do mercado de drogas, lançamos algumas questões para a reflexão: Quem, ou o que promove a violência hoje? Será que as drogas ilícitas não proporcionam mais lucros assim, proibidas, do que se fossem lícitas, fiscalizadas e taxadas? E se o Estado começasse a discutir uma possível política de drogas, revendo a proibição? Como ficaria a situação da indústria bélica? Como se comportariam as empreiteiras que constroem presídios superfaturados para abrigar os contingentes do narcotráfico? O que aconteceria com estrutura de lavagem do dinheiro sujo do tráfico de drogas? As industriais farmacêuticas, de tabaco e de álcool também não são inocentes. Seus lobbies e esquemas de propinas constituem um lodo de corrupção e de assédio moral infiltrado no Estado. (Fábio Ruela de Oliveira).

Esta semana Caeté figurou no cenário nacional e internacional em uma desagradável notícia de que menores estariam envolvidos em agressões e a conivência dos responsáveis em permitir que isto acontecesse. A evolução do quadro de saúde da vítima não é nada boa. O paciente  está respirando com ajuda de aparelhos e os menores agressores tiveram que sair da cidade, para que não fossem retalhados. A frase de que violência gera violência nunca esteve em evidencia como está agora, não podemos ter uma reação de forma impensada, pois o quadro só vai agravar.

Bom dia.