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A denúncia de uma tentativa de sequestro seguido de racismo por meio de um desabafo no Facebook ganhou enorme repercussão nas redes sociais nesta terça-feira (27): foram 93 mil compartilhamentos em menos de 20 horas. Jamille Edaes, que é negra e tem uma filha de 1 ano e 5 meses, descreve a tentativa de sequestro da menina, que é branca, por uma mulher de aproximadamente 30 anos, em uma parada de ônibus em Perdões, no Sul de Minas. A situação foi ainda mais angustiante porque, como a suposta sequestradora é branca, a maioria das pessoas acreditaram que ela era a verdadeira mãe da menina, e não Jamille.


No texto do post, Jamille relata que o caso teria acontecido em uma viagem de ônibus na segunda-feira (26) entre São Paulo e Belo Horizonte. No Graal de Perdões, após ir com a filha até o banheiro, ela viu uma mulher pegar a menina pela mão, mas achou que fosse uma brincadeira. Quando Jamille chamou pela menina, a suposta sequestradora teria gritado que era a verdadeira mãe da criança e apresentado uma certidão de nascimento falsa, possivelmente de outra criança – o documento seria de uma menina chamada Jéssica, de 1 ano e 8 meses.

Jamille relata que teve de mostrar o documento de identidade da filha e fotos da família no Facebook para provar que era a verdadeira mãe da criança.  “Corri, chorei, pedi a ajuda e todos falando: ela não é sua filha, ela é branca, ela não se parece com você. Pelo amor de Deus, como assim? Minha filha não é minha filha porque eu sou negra? O pai dela é branco e ela realmente se parece mais com ele que comigo. Me seguraram, quiseram me bater, falaram que eu estava sequestrando uma criança”, escreveu Jamille. Ela afirma ter chamado a polícia, mas o motorista do ônibus em que viajava teria dito que não iria esperar pelos militares para o registro do boletim de ocorrência porque tinha horário a cumprir. Mãe e filha seguiram viagem, enquanto a suposta sequestradora ficou em Perdões.

O pai da criança e marido de Jamille,  Roberto Edaes Jr, relatou que a família ficou muito abalada."Estamos assustados com o racismo sofrido por ela e queremos que o caso seja apurado para que outras pessoas não passem por isso”, disse.

Jamille registrou boletim de ocorrência na Delegacia Regional de Betim no início da tarde desta terça-feira (27). As investigações ficarão a cargo da Delegacia de Rio Vermelho, também no Sul de Minas. Serão investigados os crimes de subtração de menor de idade, injúria e constrangimento ilegal. A Polícia Civil informou ainda que deve ouvir funcionários da parada do ônibus na tentativa de identificar e localizar a suspeita

Apuração dos fatos

O gerente de marketing local do Graal Perdões, Emílio Vasconcelos, confirmou que a empresa apura o possível sequestro da filha de Jamille Eades, na loja da empresa que fica no km-674, na rodovia Fernão Dias. Ele disse que no local há 16 câmeras de monitoramento, e que dois funcionários estão analisando todas as imagens gravadas.

No entanto, ele afirma que estava no local na segunda-feira (26) e não ouviu nenhuma gritaria nem discussão. Afirmou ainda que a Polícia Militar não foi ao local, e não procurou a empresa para registro de ocorrência. "Fiquei sabendo hoje (27), quando a matriz nos ligou perguntando, porque algum jornal ligou pra eles", afirmou.

A reportagem entrou em contato com os funcionários da garagem da Viação Cometa, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. A empresa afirmou que tomou conhecimento do caso pelas redes sociais e que o motorista não havia comentado o ocorrido. A Cometa disse que está apurando a veracidade do relato escrito pela passageira nas redes sociais e que, após investigação, adotará as medidas cabíveis para esclarecer a situação.

desabafo face

Confira a íntegra da postagem feita por Jamille Edaes no Facebook nesta segunda (26):

Hoje dia 26/06/2017 sai dá cidade de São Paulo no ônibus de 09:00hrs com destino a Belo Horizonte. A viagem ocorrendo bem, até fazermos a segunda parada em um estabelecimento.

Entrei no banheiro com minha filha que tem apenas 1 ano e 5 meses, e na saída uma moça bonita com aparentemente uns 30 anos deu a mão a ela. Eu achei que ela estava brincando então não me importei muito, quando do nada essa moça começou a gritar : SOLTA A MINHA FILHA. Eu fiquei meio que sem reação, meu primeiro impulso foi pegar a #Manuela no colo e tentar sair de perto. Ela veio atrás gritando e tentando puxar a minha filha do meu colo. Ninguém fazia absolutamente nada!!!! Quando um rapaz (funcionário) chegou perto e perguntou o que estava acontecendo e ela respondeu: Essa preta roubou a minha filha. Ele me olhou de cima a baixo e perguntou o que eu estava fazendo com aquela "criança" no colo. Respondi: Essa "criança" é a minha filha!! Quando ele me perguntou: Tem como provar? Ãh?? Como assim eu ter que provar que minha filha é minha filha? Fiquei desesperada sem saber o que fazer. Quando aquela desgraçada daquela mulher puxou uma CERTIDÃO FALSA, alegando que ela tinha como provar. Vi meu mundo cair, pegaram a minha filha do meu colo e entregaram a ela. Vi ela andando em direção ao carro com a minha filha no colo. Corri, chorei, pedi a ajuda e todos falando: ela não é sua filha, ela é branca, ela não se parece com você. Pelo amor de Deus, como assim?? Minha filha não é minha filha porque eu sou negra????? O pai dela é branco e ela realmente se parece mais com ele que comigo. Me seguraram, quiseram me bater, falaram que eu estava sequestrando uma criança :'(

Inicialmente os passageiros ficaram do meu lado e quando ela mostrou a certidão TODOS me olharam torto.

Eu ando com a IDENTIDADE e CPF dela na bolsa , foi quando eu peguei, expliquei, falei para perguntarem a minha filha cadê a mamãe. Chamei a polícia.

O motorista do ônibus falou que não iria me esperar pois tinha "horário". Ou eu ficava e fazia b.o e ficava presa em uma cidade a Quilômetros de distância da minha casa ou ia embora com eles... Precisei entrar no face, mostrar fotos grávida, mostrar fotos do hospital, do nascimento dela. Para assim acreditarem que a menina branca, era filha da mulher negra!!!! ABSURDO, PRECONCEITO, DESCASO!!!!! Estou sem acreditar até agora que isso tenha acontecido comigo. Por fim, depois de mostrar nossos documentos e fotos me ajudaram a pegar a MINHA filha... E aquela mulher ficou lá, se esguelando, gritando e as pessoas que a conteram ficaram aguardando a chegada da polícia. Eu vim embora com uma sensação horrível, de que isso ainda vai acontecer muitas e muitas vezes e por causa do racismo e preconceito quase eu perco a minha filha.