vittorio_de_sica_minha_vida_meus_amores_interna
Muitos predicados faziam parte da persona de Vittorio de Sica (1901-1974): ator, roteirista, diretor, co-inventor do neorrealismo. Não só o cinema italiano, como o mundial têm uma dívida impagável com este artista versátil, capaz de transitar da comédia ao drama, diante ou atrás das câmeras com a mesma voracidade e paixão com que se entregava ao vício do jogo, que dizimou suas finanças.
Uma parte desse homem apaixonado e contraditório emerge do documentário Vittorio de Sica - Minha Vida, Meus Amores, de Mario Canale e Annarosa Morri, a mesma dupla responsável pelo filme Marcello – Uma Vida Doce, outro documentário, este sobre o ator Marcello Mastroianni...
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Ficha técnica
  • Nome: Vittorio de Sica - Minha Vida, Meus Amores
  • Nome Original: Vittorio D.
  • Cor filmagem: Colorida
  • Origem: Itália
  • Ano de produção: 2009
  • Gênero: Documentário
  • Duração: 92 min
  • Classificação: Livre
  • Direção: Mario Canale, Annarosa Morri
  • Elenco:

 


Locais de filmagem
  • Itália

Sinopse

Contando com material de arquivo da RAI e cenas de diversos filmes, o documentário lembra a vida e a obra do ator e diretor italiano Vittorio de Sica (1901-1974). Entrevistas com Sophia Loren, Clint Eastwood, Woody Allen, Ettore Scola e outros.


Crítica
Muitos predicados faziam parte da persona de Vittorio de Sica (1901-1974): ator, roteirista, diretor, co-inventor do neorrealismo. Não só o cinema italiano, como o mundial têm uma dívida impagável com este artista versátil, capaz de transitar da comédia ao drama, diante ou atrás das câmeras com a mesma voracidade e paixão com que se entregava ao vício do jogo, que dizimou suas finanças.
Uma parte desse homem apaixonado e contraditório emerge do documentário Vittorio de Sica - Minha Vida, Meus Amores, de Mario Canale e Annarosa Morri, a mesma dupla responsável pelo filme Marcello – Uma Vida Doce, outro documentário, este sobre o ator Marcello Mastroianni.
Seguindo um figurino um tanto reverente e sem pretender maiores ousadias de linguagem, o filme dá conta de evocar fragmentos da personalidade fascinante de De Sica, cujo talento histriônico foi descoberto por uma certeira intuição da bailarina russa Tatiana Pavlova, em cuja companhia teatral ele foi descoberto como figurante. Ele nunca esqueceu esta primeira chance, mandando buquês de flores a Pavlova.
Galã cômico do cinema italiano dos anos 30 – a chamada era do “telefone branco”, aparato que sempre aparecia em cena – ele passa à história como um dos pais do neorrealismo.
Um encontro acidental entre os dois diretores, relatado pelos filhos de De Sica, dá conta da espontaneidade do movimento que mudou o cinema italiano e teve reflexos pelo mundo todo. Rossellini estava tomando sol um dia, na escadaria da Piazza di Spagna, centro de Roma. De Sica passou e perguntou-lhe o que fazia no momento. Rossellini contou-lhe que preparava um drama com Anna Magnani e em que o ator cômico Aldo Fabrizi faria o papel de um padre. De Sica, por sua vez, disse ao colega que planejava um filme sobre os meninos-engraxates da via Vêneto. O resultado: os dois filmes-farois do movimento, Ladrões de Bicicleta (1948) e Roma, Cidade Aberta (1945).
Espertamente, os documentaristas entrevistam o ex-primeiro ministro Giulio Andreotti, que criticou justamente Ladrões de Bicicleta por expor internacionalmente a “roupa suja” da Itália, ou seja, a pobreza do país naquele momento. A Democracia Cristã, partido de Andreotti, na época criticou o diretor por fazer um filme “sobre bicicletas num momento em que o país estava crescendo”.
A ironia com a miopia dos políticos passa breve no filme, que se ocupa, felizmente, de depoimentos melhores – como dos cineastas Ettore Scola, Woody Allen, Ken Loach, Mike Leigh, Clint Eastwood, das atrizes Sophia Loren e Shirley McLaine, do produtor Dino di Laurentiis, do roteirista Tonino Guerra, do diretor de fotografia Giuseppe Rotunno, do crítico Tullio Kezich e de muitos outros, capazes de elaborar melhor sua admiração pelo cineasta, bem como lembrar momentos curiosos de sua vida.
Melhor ainda é uma longa entrevista de De Sica à RAI, em 1960, que pontua o filme, e que conta com a participação do roteirista Cesare Zavattini, parceiro inseparável do diretor em filmes como o citado Ladrões de Bicicleta e também Duas Mulheres (1960), que deu o Oscar a Sophia Loren, Milagre em Milão (51), Umberto D (52) e O Jardim dos Finzi-Contini, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim em 1971. Isso sem contar as deliciosas comédias que firmaram a dupla Marcello Mastroianni e Sophia Loren, como Ontem, Hoje e Amanhã (63). Só por isso, De Sica já teria um lugar garantido no céu.

Neusa Barbosa/Cineweb