Categoria: Cidade

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Cadernos, lápis, brinquedos, alimentos e roupas. Diante das doações recebidas de várias partes, Yasmin Almeida de Sousa, 10, e sua família tentam um recomeço após a chuva de granizo que atingiu Caeté, na região metropolitana de Belo Horizonte, e destelhou várias casas, inclusive a dela, no dia 30 de novembro. O imóvel em que vivia com a avó, Dalva da Silva Oliveira, 85, foi interditado pela Defesa Civil devido ao risco de queda da parede da cozinha.

Assim como a família da garota, outras 200 que ficaram desalojadas vão começar do zero após perderem roupas, colchões cobertores, eletrodomésticos e móveis. Dona Dalva ainda está abalada por ter saído da residência onde morou por mais de 50 anos. “Fazer o quê? A Defesa Civil disse que tinha que sair porque corre o risco de cair. A gente fica muito magoada, gostava da minha casa, do meu cantinho. Agora estou em uma casa alugada e vamos levando a vida”, disse, enquanto chorava.

Na casa provisória, cujo aluguel de R$ 450 foi pago por um parente, estão acomodadas 13 pessoas em cinco cômodos. Antes, elas se dividiam em três imóveis. “Nós recebemos muita coisa. Se não fossem as doações, nós estaríamos no poliesportivo (ginásio que foi improvisado como abrigo), e morar lá com 200 famílias não seria fácil, não. A gente ainda precisa muito, mas o que recebemos e já temos, estamos repassando para outras famílias. É um ajudando o outro e Deus ajudando todo mundo”, disse a garota, que chorou ao perder os materiais escolares.

Telhas. Após declarar estado de emergência, a Prefeitura de Caeté começou, na última quarta-feira, a repor as telhas nos imóveis. Ao todo foram danificadas 14.732 peças. O município comprou 5.000 telhas e o restante veio de doações de empresas privadas.

Uma força-tarefa foi montada para que voluntários ajudassem na reposição das telhas e para que os proprietários pudessem retornar. “Após a finalização do cadastro, em que concluimos a contagem de casas atingidas, nós começamos com a distribuição das telhas”, explicou o secretário de Governo do município, Webber Leite.

Solidariedade. Durante mais de uma semana, as doações não pararam de chegar à cidade. “Vim um dia depois que a chuva atingiu Caeté. Graças a Deus não tive muito prejuízo porque moro mais na área central. Tinha algumas coisas em casa e trouxe imediatamente. Esta semana voltei de novo. Recolhi roupas com alguns parentes que moram em BH. Faz bem ajudar o próximo”, afirmou a dona de casa Vânia Costa, 39.

O apoio das pessoas que ajudaram com materiais ou até mesmo palavras de conforto, traz, aos poucos, o sorriso no rosto de quem, em cinco minutos de chuva, perdeu o que demorou anos para construir. “A gente só tem a agradecer a tudo que estamos recebendo”, finalizou a avó de Yasmin.

Emergência

Volta. O secretário de governo Webber Leite diz que nem todos voltaram para suas casas e que o decreto de emergência será mantido até que todas as famílias retornem a seus imóveis.

Doações. Até o fechamento desta edição, a prefeitura não havia contabilizado o volume de doações recebidas.

Os desafios da convivência

“Na minha casa morava eu e Deus. Estava acostumado a ver minha TV, escutar o forró no rádio. Aqui a gente perde um pouco da liberdade”. O relato é do aposentado Manoel dos Santos, 73, que foi para o Ginásio Poliesportivo de Caeté três dias após a chuva. No abrigo, ele dividiu espaço com outras 200 famílias que foram para o local desde o dia da tempestade.

“Fomos muito bem tratados aqui desde o primeiro momento, mas ninguém quer sair de casa dessa forma. Com essa idade, eu não pensava que fosse passar por essa situação”, afirmou o aposentado.

No poliesportivo também estava a dona de casa Naiara Marília Ferreira, 26, com o marido e dois filhos pequenos, que se divertiram jogando bola na quadra. O casal está desempregado e já vinha recebendo doações. Por “livramento de Deus”, segundo ela, a família não estava na residência na hora da chuva.

“Alimentação e atenção não têm faltado, mas aqui não é a nossa casa. Tem gente que faz raiva na gente, mas faz parte. Passo o dia olhando meus filhos e ajudando as meninas na separação de roupas. Deus é mais. Eu vou recomeçar do zero, vamos vencer”, finalizou.

 

Voluntários atuam na cozinha e na reconstrução dos imóveis

Cem voluntários fixos recebendo e separando doações, preparando e servindo as refeições. O que se viu nos últimos dias no Ginásio Poliesportivo de Caeté foi a união de pessoas que dedicaram o tempo para ajudar outras pessoas.

Desempregado, João Lucas Marques, 24, precisou ir para o espaço logo após a chuva. Na terça-feira, ele e a família retornaram à casa. O jovem, que foi ajudado, passou a colaborar com quem precisava. “Agora é uma nova vida, bola pra frente e reconquistar tudo de novo”, afirmou.

Fora do poliesportivo também há solidariedade. Outros voluntários se dedicam, por exemplo, a colocar telhas nas casas que foram danificadas pelo temporal.

Fonte: Jornal Otempo